quarta-feira, 14 de junho de 2017

Número de mortos com as ondas de calor deve aumentar radicalmente nos próximos anos em países em desenvolvimento.
Foto: EBC

Aquecimento modesto multiplica ondas de calor assassinas em países pobres – Pesquisadores revelam que mais meio grau Celsius na temperatura média da Índia no verão tornará esses extremos duas vezes e meia mais frequentes, intensas e duradouras a ponto de ser quase certa a morte de dezenas de milhares de pessoas

Por LUCIANA VICÁRIA, do Observatório do Clima

O número de mortos com as ondas de calor deve aumentar radicalmente nos próximos anos em países em desenvolvimento, sugere um estudo publicado nesta sexta-feira (9) no periódico Science Advances.

Na Índia, onde o estudo foi realizado, o prognóstico é avassalador. Bastará um acréscimo de mais meio grau na temperatura média do país no verão para as ondas de calor mortíferas ficarem duas vezes e meia mais frequentes. Os cientistas afirmam que uma elevação dessa magnitude nas médias é “praticamente inevitável” no país.

“Se nada for feito, se a população não for protegida, se as emissões não forem controladas, os mortos virão em dezenas de milhares”, diz Omid Mazdiyasni, da Universidade da Califórnia, um dos autores do estudo.

O aumento médio previsto da temperatura na Índia será de 2,2°C a 5,5°C até o final do século 21, valor acima da média do planeta, uma vez que o aquecimento global não é igual em todos os lugares. Soma-se o fato de a Índia reunir condições que tornam os eventos climáticos ainda mais perigosos: comunidades vulneráveis – mais de 20% da população ganha menos de US$ 1,25 por dia – umidade do ar elevada em algumas regiões, baixa latitude e alta densidade populacional.

As evidências do estudo resultaram de uma análise detalhada do comportamento da temperatura na Índia e de seus efeitos nas ondas de calor assassinas (que causam mais de cem mortes) entre 1960 e 2009. Nesse período, a temperatura se elevou 0,5°C e a probabilidade de mortes aumentou 146%.

Nas últimas três décadas, porém, esse fenômeno se intensificou. As regiões ao sul e a oeste da Índia experimentaram 50% mais eventos de ondas de calor entre 1985 e 2009, se comparado aos 25 anos anteriores. Da mesma forma, a duração média das ondas de calor aumentou cerca de 25% na maior parte do país.

“Até as ondas de calor mais severas, como a de 2010, que matou mais de 1.300 pessoas na cidade de Ahmedabad; ou a de 2015, com mais 2.500 mortos no país, podem ser incomparáveis às que estão por vir”, diz Mazdiyasni.

Uma onda de calor acontece a partir da combinação de temperatura alta e umidade elevada. O ambiente quente e úmido faz o corpo perder a capacidade de dissipar o próprio calor, gerando o que se chama de estresse térmico. Quando o estresse térmico se prolonga por mais de três dias, com temperaturas acima de 85% da média do mês mais quente, o evento passa a ser chamado de onda de calor.

A temperatura pode chegar a níveis altíssimos, como a de 52,3°C registrada em maio do ano passado em Ahmadabad, e a exposição a um ambiente inóspito como esse impede o corpo de regular a própria temperatura, gerando perda progressiva de funções vitais, o que pode levar à morte.

Populações mais pobres, idosos e crianças são os mais vulneráveis. O estudo também indica que países da África, da América do Sul e do Oriente Médio devem passar por situações semelhantes.

No Brasil, as ondas de calor também devem se multiplicar, em temperaturas nem tão elevadas, mas com consequências terríveis para a população. Um estudo publicado em 2016 pela embaixada britânica no Brasil indica que vastas regiões do país poderão se tornar inabitáveis caso o aquecimento global ultrapasse 4oC.

As iniciativas para amenizar os efeitos das ondas de calor ainda são poucas, mas já existem planos para mitigar seus efeitos em cidades indianas onde elas devem se tornar mais frequentes. A cidade de Ahmadabad implementou recentemente o primeiro plano abrangente de aquecimento da Ásia, que está servindo de exemplo para cidades vizinhas, que além de pobres, sofrem com o aumento populacional.


Fonte: EcoDebate

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