segunda-feira, 3 de julho de 2017

Zika Vírus: o risco continua.
Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, da febre amarela urbana e do zika. Menor do que os mosquitos comuns, é preto com listras brancas no tronco, na cabeça e nas pernas. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível ao ser humano. Foto e informações: EBC

Novas descobertas e estudos sobre o tema deixam especialistas no Brasil e no mundo em estado de alerta.

Depois de alguns meses sem estampar as manchetes dos jornais, o Zika vírus volta a chamar a atenção da imprensa e também dos especialistas. Por um lado, algumas notícias veiculadas nas últimas semanas apontam para o fim da epidemia e uma aparente tranquilidade da população, que volta a fazer planos para aumentar a família. De outro, especialistas observam com receio esta tranquilidade sobre o tema.

“O vírus segue circulando e oferecendo riscos, especialmente às gestantes”, alerta o Dr. Thomaz Gollop, Professor Livre-Docente em Genética Médica pela Universidade de São Paulo e coordenador do Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA).

Prova disso foi a confirmação, na última semana, do primeiro caso de microcefalia associado ao zika vírus contraído no Rio Grande do Sul.

Um bebê, nascido em julho de 2016, vinha sendo acompanhado desde a gestação, quando a mãe apresentou um quadro de zika. Exames clínicos e radiológicos realizados pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) agora confirmaram que as alterações que o bebê apresenta estão associadas à Síndrome Congênita do Zika (SCZ).

Este foi o primeiro caso de contaminação ocorrida no próprio estado do Rio Grande do Sul. Todos os demais casos registrados anteriormente no Estado, haviam sido de contaminações ocorridas em outras localidades.

Este caso é uma comprovação de que o vírus não foi erradicado no país e segue oferecendo riscos à população.

Estudos sobre o zika

Em São Paulo, pesquisa feita pela Faculdade de Medicina (Famerp), em São José do Rio Preto (SP), apontou que o padrão verificado no Estado é diferente daquele vivido no Nordeste do país. Os casos de bebês com microcefalia nascidos após contaminação das gestantes por zika vírus foram inferiores aos apresentados em Salvador, girando em torno de 10%. No entanto, mesmo sem a microcefalia, houve relatos de danos neurológicos em diversos casos.

Os pesquisadores já haviam acompanhado nascimentos em um hospital público de Salvador durante o pico da epidemia de zika no estado, em 2015, e compararam aos dados obtidos em Rio Preto. Para eles, o fato de mais crianças apresentarem microcefalia no Nordeste que em Rio Preto, pode estar relacionado ao próprio hospedeiro humano ou a algum fator genético.

Nos Estados Unidos, a preocupação também é grande. O primeiro relatório sobre o tema foi divulgado este mês e mostrou que 5% das mulheres com infecções confirmadas tiveram filhos com malformações relacionadas ao zika. O documento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos incluiu números oficiais dos Estados americanos e também de Porto Rico, Samoa Americana, Estados Federados da Micronésia, República das Ilhas Marshall e Ilhas Virgens Americanas.

No total, foram 1.508 mulheres grávidas infectadas pelo zika vírus de 1º de janeiro de 2016 a 25 de abril deste ano.

Segundo o Dr. Thomaz, os dados também revelam que os casos de SCZ após a contaminação de gestantes podem ter origem em qualquer período da gestação, embora a gravidade da manifestação seja maior quando a infecção materna ocorre no primeiro trimestre.

“A diferença está nas alterações ocorridas na placenta ao longo da gravidez. No primeiro trimestre, receptores de ligação estimulam a adesão e a entrada do zika vírus através da placenta, infectando o feto. Já no final da gravidez, as células da placenta são mais resistentes à infecção, dificultando sua entrada e ativando genes associados à defesa antiviral.”

Queda nos nascimentos

Dados preliminares do Ministério da Saúde sugerem que houve redução do número de nascidos vivos a partir do segundo semestre de 2016 em todo o país, ou seja, aproximadamente nove meses após o início da epidemia do zika vírus.

Os dados ainda não estão consolidados e ainda poderão sofrer alterações. Além disso, outros fatores podem ter influenciado esta queda, como a crise econômica que o país vem atravessando. Mas é certo que desde o brusco aumento de casos de microcefalia, e posterior confirmação da SCZ, especialistas e profissionais de saúde de todo o país vem alertando as mulheres para os riscos de uma gestação nesta época., o que pode ter acarretado o adiamento dos planos em muitas famílias.

Outra possível evidência do impacto do zika na queda de nascimentos no país é o estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine, em julho de 2016, que aponta o aumento da demanda por medicações abortivas por meio da ONG Women on Web nos países da América Latina afetados pelo zika. Segundo o estudo, as solicitações feitas por gestantes brasileiras cresceu 108% no período.


Fonte: EcoDebate

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