segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Um edifício chamado Sustentabilidade.
Por Dal Marcondes, da Envolverde –


Sede do Centro SEBRAE de Sustentabilidade, em Cuiabá (MT), recebe de organização britânica a certificação de edifício em uso mais sustentável da América Latina.

Pensado para ser uma referência de sustentabilidade para profissionais do Sistema SEBRAE e para empreendedores de pequenos negócios de todo o país, o Centro SEBRAE de Sustentabilidade, um pequeno edifício construído em Cuiabá, tem rompido barreiras nunca imaginadas por seus idealizadores. Na primeira semana de setembro, após dois anos de trabalho, o que incluiu a instalação de uma moderna mini-usina solar, seu emblemático edifício, que emula as condições de uma OCA da tribo Walapity, do Parque Indígena do Xingu, conquistou um status inédito para prédios no Brasil, a certificação BREEAM – Building Research Establishment’s Environmental Assessment Method em seu mais alto grau.

Desenvolvida pela Building Research Establishment (BRE), uma organização britânica multidisciplinar que estuda a ciência da sustentabilidade em edificações, a Certificação BREEAM é feita a partir de uma rigorosa análise de todo o processo construtivo, materiais utilizados, consumos de materiais, água e energia, geração de resíduos e tudo o mais que possa resultar em impactos negativos para o ambiente e as pessoas. No caso do prédio de Cuiabá a análise foi especialmente rigorosa, porque foi feita em uma edificação pronta, em uso, já visitada por mais de 43 mil pessoas em cursos, atendimentos e exposições.
José Guilherme Ribeiro, superintendente do SEBRAE – MT: sustentabilidade como diferencial para pequenas empresas.

No início de sua história, oito anos atrás, os idealizadores do CSS, sigla pela qual é conhecido o Centro SEBRAE de Sustentabilidade, se impuseram o desafio de fazer uma construção que utilizasse a natureza a seu favor, com a captação de água de chuva, refrigeração natural, iluminação solar e outros quesitos de conforto e adequação à sua finalidade principal, que é ensinar sustentabilidade pelo exemplo. “Queríamos mostrar que o respeito ao meio ambiente e à vida deve ser a linha mestra de negócios de sucesso, seja qual for o ramo de atividade”, explica José Guilherme Barbosa Ribeiro, superintendente do SEBRAE Mato Grosso. Para ele sustentabilidade e inovação são os esteios para negócios de sucesso. “O Brasil tem muitas vantagens competitivas baseadas em recursos naturais e capacidade empreendedora, para aproveitar essas oportunidades precisamos disseminar conhecimentos”, explica o executivo, principal incentivador da iniciativa de se construir o CSS.

Para tocar esse projeto a equipe do SEBRAE contou com uma fiel defensora, a engenheira Suenia de Souza, que estava acabando de atuar na construção do Centro de Eventos do Pantanal, outro ícone da sustentabilidade na capital mato-grossense, também mantido pelo SEBRAE – MT. “O sonho era construir sem destruir”, explica Suenia. As intervenções no terreno foram mínimas e a maior parte da vegetação foi preservada, inclusive com grande esforço para não espantar os animais que vivem no lugar.
Suenia de Souza, gerente do Centro SEBRAE de Sustentabilidade.

O projeto arquitetônico foi encomendado a José Afonso Botura Portocarrero, professor da Universidade Federal do Mato Grosso, formado pela Universidade Católica de Santos (SP) e estudioso e autor de livros sobre a arquitetura e processos construtivos dos índios. Segundo a engenheira Suenia a primeira impressão sobre o projeto inovador apresentado por Portocarrero foi de espanto. No entanto, os benefícios ambientais logo ficaram explícitos. “No primeiro momento a intuição mostrava que estávamos no caminho certo, hoje a conquista da certificação BREEAM comprova que valeu a pena colocar todas as energias no inovador projeto do Portocarrero”, conta.

Para o arquiteto Portocarrero a demanda do SEBRAE foi instigante. “Já estudava as formas das construções indígenas e aplicá-las seria a realização de um sonho profissional”, explicou. A forma proposta foi inspirada em uma OCA da tribo dos Yawalapiti uma das 16 etnias que vivem o Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. “Trabalhamos para oferecer o máximo de harmonia com o meio ambiente, ventilação natural e integração com o espaço, mas receber essa certificação BREEAM foi uma grande surpresa”, disse. Para todos os profissionais envolvidos a emoção pela comprovação do trabalho bem realizado emocionou.
José Afonso Botura Portocarrero: inspiração em arquitetura indígena.

Foram feitos dois pequenos eventos para a entrega dos certificados pela equipe do Building Research Establishment’s Environmental Assessment Method. Um em Brasília, no dia 6 de setembro, na sede do SEBRAE Nacional, e outro no dia 8, no próprio edifício do Centro SEBRAE de Sustentabilidade, em Cuiabá. “Para nós é um orgulho ver o trabalho de nossas equipes atingir tamanho patamar de excelência”, disse o presidente do SEBRAE Nacional, Guilherme Afif Domingos. Ele explicou que a partir do Centro SEBRAE de Sustentabilidade se irradia para todo o Brasil o compromisso que a organização tem com a inovação e com as boas práticas ambientais e empresariais. “Em cada regional do SEBRAE há pessoas que realizam cursos e treinamentos coordenados pela equipe do CSS, de forma a ampliar ao máximo o compromisso com a sustentabilidade das pequenas empresas”, disse Afif Domingos.
Cerimônia de entrega da certificação BREEAM, na sede do SEBRAE Nacional, com a presença de Guilherme Afif Domingos.

Para o diretor internacional do BREEAM, Orivaldo Barros, um cuiabano que adotou Londres para viver, o reconhecimento do edifício do Centro SEBRAE de Sustentabilidade como o mais sustentável em uso da América Latina foi um processo árduo, que durou quase dois anos e passou em revista todos os processos, desde a elaboração do projeto até que se chegasse à certificação final. “Há diversos itens a ser analisados, desde o projeto, os materiais, as intervenções no terreno, a preocupação com fauna e flora, até as questões relacionadas ao cotidiano, como água, energia, conforto interno, iluminação etc”, explicou Barros. 

O executivo conta que a maior parte dos trabalhos desenvolvidos por sua equipe é de projetos novos ou em especificações de retrofit, quando uma edificação passa por reformas e modernizações, o que não foi o caso do CSS, que manteve todos as suas características originais ao ser submetido à avaliação. “Neste caso o que precisamos foi levantar dados que estavam perdidos no tempo, uma vez que desde o início da obra se passaram oito anos”, explicou, mas ressaltou que o edifício é, inclusive para a equipe da BRE, uma enorme surpresa. 

“Saber que tem gente construindo com tamanha qualidade e compromisso com a sustentabilidade no Mato Grosso é um motivo de orgulho”, disse o mato-grossense, que depois de tantos anos na Inglaterra já carrega um leve sotaque.

O BREEAM – Building Research Establishment’s Environmental Assessment Method (cuja tradução é Método de Avaliação Ambiental do Instituto de Pesquisa de Edifícios), foi criado em 1990 e hoje está presente em 77 países e aplicado em mais de 500 mil edificações. É um dos sistemas mais abrangentes para avaliar o desempenho ambiental de edificações.  É um instrumento para incentivar arquitetos, construtores, clientes e outros a pensar soluções que tenham a sustentabilidade como objetivo, com foco principal em minimizar impactos ambientais e ampliar os benefícios para a sociedade.
Vista interna do Centro SEBRAE de Sustentabilidade

O Centro SEBRAE de Sustentabilidade

As obras para construção do Centro SEBRAE de Sustentabilidade começaram em 2008 e, do projeto à construção, a edificação foi pensada minimizando impactos ambientais e em integração com a natureza. Ocupa uma área de 2.500m², o prédio possui 1.000m² de área construída, dividida em dois pavimentos, na área inferior abriga um auditório. O projeto, assinado pelo arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, foi desenvolvido a partir de um resgate das culturas indígenas brasileiras.

O projeto e a construção receberam em 2013, o selo Procel Edifica, certificação concedida pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) e Instituto Nacional de Metrologia Normalização Qualidade Industrial (Inmetro), que mapeia as condições de eficiência energética e conforto térmico das edificações. Com nota 5,6 em um total máximo de 6, a edificação foi enquadrada no nível A, o mais alto do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE).

Concentra uma série de tecnologias sustentáveis e atua como laboratório empresarial e é aberto à visitação para empresas, poderes públicos e universidades. O prédio foi construído para melhor aproveitar a luz solar e com beirais que evitam a radiação direta. Com a forma das casas indígenas, possui pé direito de 7,5 metros e sua cobertura projetadas em duas cascas (exterior e interior), espaçadas por cerca de 30 cm permite que a água da chuva permeie seu interior para resfriamento natural ao mesmo tempo em que a casca exterior protege a interior. O ar quente é encapsulado e possibilita temperatura interna mais baixa (até 10 graus em relação ao exterior) e constante em todo o pavimento térreo.

Espaço Interativo

O prédio do CSS abriga também o Espaço Interativo, um ambiente criado para promover experiências e conhecimentos práticos sobre sustentabilidade, aplicado à vida e aos negócios. Por meio de jogos, aplicativos, ambientes interativos e vídeos, o visitante percorre uma trilha de informações, práticas sustentáveis, vantagens e oportunidades para incorporar a temática no dia a dia das empresas, um ponto de referência estratégico para pessoas, empresas ou instituições que desejam conhecer como inovar e ser mais competitivo, respeitando o meio ambiente e contribuindo para o desenvolvimento social.

Fonte: ENVOLVERDE

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